Nosso
processo é bem rodado, não precisa!
Há
alguns fatos curiosos nas empresas de médio e pequeno porte: quando
a engenharia do processo vai copiar
as máquinas, não costuma considerar esse equipamento como novo
quando acha que é algo conhecido, então não precisa de uma
validação “formal”; sempre considera os Operadores com muita
experiência como “a referência”, pois não é possível que
eles errem na hora de medir porque fazem isso já há muito tempo; o
Time da Produção tem sempre receio em cobrar a Qualidade ou a
Engenharia porque não pode mostrar fraqueza e estão aí para
produzir mais.
Nos
manuais de qualidade se usa muito o termo de Time Multifuncional,
isso
significa que todos devem trabalhar juntos para assegurar a qualidade
do produto. A Engenharia do Processo deve zelar na hora de liberar
uma nova máquina ou um novo dispositivo para assegurar que tudo foi
feito para não haver erros. O Departamento da Qualidade deve validar
essas mudanças para assegurar que estão de acordo com os
procedimentos e vão atender ao Plano de Controle. Finalmente, a
Produção deve receber todas as garantias de que os equipamentos vão
ser capazes de produzir e controlar dentro das especificações.
O
fato das empresas não usarem
ferramentais estatísticas para validar novos
equipamentos de controle, por exemplo, é motivado por vários
paradigmas: todos querem logo a nova máquina para produzir mais,
pois foi feito o investimento então, agora que a máquina chegou,
não se pode perder tempo para esses engenheiros “brincarem” ou
ficarem de frescuras; não é complicado medir, então o novo
operador vai aprender com o antigo; técnicos da Engenharia e da
Qualidade nunca são disponíveis...
Eu
estava observando há alguns dias que a cada troca de turno o líder
da produção
mudava várias regulagens de estações da linha para ajustar um dos
parâmetros do produto. Eu passei a ficar no Chão de Fábrica nas
trocas de turno para entender as causas. Logo eu percebi que o líder
do turno da manhã usava o dispositivo de controle do laboratório e
o líder da tarde usava aquele da linha.
Eu
descobri que o dispositivo da linha era novo, a Engenharia do
Processo
tinha copiado o dispositivo do laboratório, foi fácil e rápido
porque tínhamos o projeto disponível e precisou apenas fabricar as
peças conforme os desenhos. Eu fui perguntar para o técnico da
Qualidade qual era o dispositivo certo e ele respondeu: “Tanto faz,
os dois dispositivos são iguais!”
Eu
pedi para fazer um estudo comparativo entre os dois dispositivos e
constatamos
que havia diferença entre as duas medições. Investigando,
constatamos que, com o tempo, o dispositivo do laboratório era
desgastado e tinha pequenas diferenças dimensionais com o projeto
original. Foram feitas novas peças e conseguimos ter medições
iguais.
Isso
é um bom exemplo de excesso de confiança: acreditar
que duplicar um dispositivo é
tão simples, especialmente quando tem o projeto, que não precisa de
validação!
É
muito simples validar um novo dispositivo de controle fazendo um
estudo
de MSA (Measurment System Analyze /Análise de Sistema de Medição).
Neste caso, pegamos dez peças e pedimos para cada operador medir
três vezes cada peça nos dois dispositivos. Este estudo estatístico
se chama GR&R (Gage Repeatability and Reproducibility /
Repetitividade e Reprodutibilidade de Dispositivo). Esse estudo
permite qualificar os três componentes da medição: o Operador, o
Dispositivo e o Produto.
Esse
procedimento deve ser feito para qualificar qualquer equipamento de
medição e para todas as pessoas fazendo medição, incluindo os
técnicos da Qualidade. Para conseguir melhores resultados, os
departamentos técnicos devem disponibilizar uma Instrução de
Controle, nela será explicado os cuidados sobre os equipamentos e o
produto para conseguir uma medição confiável.
Time
da Produção, é primordial fazer periodicamente estes estudos de
MSA
para as características críticas do produto. Vocês devem cobrar a
Qualidade para ter sempre disponíveis as amostras de referência a
fim de poder aplicar o estudo a qualquer momento que vocês julguem
necessário. O pior caso é o turno da noite, que nunca recebe o
apoio necessário. Uma boa estratégia é pedir ao departamento da
Qualidade para treinar algumas pessoas do turno para saber como fazer
o GR&R e assim ser capacitado para qualificar novos operadores
quando for preciso ou conferir um dispositivo de controle em caso de
dúvidas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghdVZaTlVNaYXnfncddnLpAbRivpzLxJ5PpplvniGCquvpZpCfijKkX1uSITGiDvN-BAizL-RlkP1OCoCCd3BGSa9ZASU4BayAHg3SQyu1IDw-tbY4DLH1LChWvMbFHwyku46oa5ILsLpN/s200/clipart+-+iso9001.jpg)
Lembre-se
que a Qualidade não pode ser aproximada, deve ser sempre ASSEGURADA!
Então fiquem atentos às possíveis divergências e não tenham medo
de cobrar quando houver dúvidas. Em caso de defeito no cliente, o
primeiro a ser culpado é sempre a Produção que fez errado. Para
isso que deve haver Instruções disponíveis e deve-se seguir os
Procedimentos rigorosamente.
Bruno Viandier
Expert Industrial & Mentor
Deixa seu Comentário e Compartilhe.
Se você está precisando de ajuda, pode entrar em contato comigo (sem compromisso)
Bruno, excelente texto. Se possível, gostaríamos de fazer um ebook e divulgá-lo com os devidos créditos. Concordo plenamente com você em relação ao texto. Infelizmente as empresas acabam não dando importância para alguns detalhes que, a princípio, parecem que não irão impactar no resultado final, mas acabam impactando, e muitas vezes, sem uma observação mais profunda, dificilmente chegam às reais causas do problema. E aí a empresa perde muita energia desnecessária e consequentemente muito dinheiro. Se puder liberar o material, por gentileza envie email para sergio.mendes@tnxbrasil.com.br
ResponderExcluirOlá Sergio,
ExcluirObrigado pelo convite!
Pode usar sim porque divulgará meu conhecimento, o que é o objetivo desse Blog.
Até logo.
Bruno Viandier